domingo, 9 de outubro de 2011

Não é para ti



Não, não é para ti
Estou a escrever
Mas não, não escrevo para ti
Estou a escrever, estou a escrever
E escrevo mesmo alguma coisa
Mas não, não é para ti
Digo e repito
Não te escrevo
Não é para ti
E torno a escrever
E escrevo o texto que lerás
E que não foi feito para ti
Tens consciência do que estou a dizer?
Escrevo um texto, escrevo-o incógnito
Escrevo porque escrevo, não simplesmente
Não para que leias, não para que reflitas
Escrevo para que dure
Escrevo para escrever
Não, não te escreverei
Nem te escreverias se me pedisses
E mesmo assim me pedirias?
Só escrevo a mim
Que de ti nada sei
Antes soubesse de mim
O quanto ousaria me saber
E ainda assim me escrevo
Mas não escreverei a ti
Que não me és e não me fostes e não serás
E lerei a mim mesmo
Assim como tu não te lerás por mim
E não te enviarei
Os escritos que não te fiz
Lerás apenas meus escritos
E, ainda assim, não me lerás
E não estarás nas minhas linhas
E não estarás nas entrelinhas
Que nunca te escrevi


Euclides Araújo

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