quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Café, relógio, celular.


Café, relógio, celular. Mais uma xícara de café, outra conferida no horário, olhar de relance no celular. E esse ciclo fica se repetindo constante e exaustivamente. Por mais que eu queira ir me deitar e fingir que isso é só um sonho, eu não consigo. Vou tomando mais goles de café para tentar conter o sono, enquanto os segundos disparam contra a minha esperança, prontos para matarem-na com uma faca de dois gumes. Ao som de uma música romântica, eu me desespero, tentando conter o coração prestes a escapar pela minha garganta. Fico aqui, escrevendo enquanto espero pela sua resposta, mesmo sabendo que ela jamais virá, muito menos neste meio-tempo. Cada letra que eu teclo imagino ser você, assim posso tê-la em minhas mãos. Envolvido num cobertor, finjo que você me abraça, assim posso sentir teu carinho. Tomando a xícara de café, penso em como seria beijar seu rosto agora. Assim posso saber que eu não vou ter você em minha vida. Nem em cem anos, nem em doze meses, nem nos minutos que faltam para o dia acabar. Isso é tão apavorante… Vejo tudo o que passamos em flashback, desde a nossa primeira conversa até eu te perder por completo. Só queria fingir que tudo isso irá passar facilmente e conseguir sorrir. Eu tentei, muito, mas isso é muito mais complexo do que tentar. É mais complexo que se apaixonar, e aprendi da pior maneira que é impossível sentir algo assim e nunca se machucar, por menor que seja o ferimento. Aprendi que quando você desaba você pode continuar tentando, mas nem sempre conseguirá alcançar aquilo que quer. Aprendi que nada é fácil quando se está apaixonado, e que nos tornamos marionetes em certos momentos. Coisas que antes eu pensava conseguir resolver em segundos duraram meses para serem definidas como impossíveis. Percebi que a chuva, antes confortadora e pacífica, tornou-se apavorante e violenta quando batia na janela, como se tentasse me acordar do transe. Eu deveria ter dado ouvidos a ela. Eu deveria ter calado o meu coração, impedi-lo de que me convencesse a continuar, mas não pude, ele foi muito mais forte. Agora está pagando por seu pecado, sangrando como deveria. E agora faltam poucos segundos para a meia-noite, e eu ainda não a tenho em minhas mãos. Creio que nunca terei.




Escritor: Everton Mitherhofer


2 comentários:

  1. Belissimo, sincero, comovente ...

    Se puder, da uma olhada no meu blog:
    explorando pensamentos
    http://jjocunegundes.blogspot.com

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  2. Profundo, me fez vir em mente coisas que luto pra esquecer. Um amor, um amigo, algo que já foi meu e hoje não é.

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